O perfil do aventureiro Old Dragon
O Old Dragon Online completou dois anos de lançamento das fichas de personagem, e comemoramos mergulhando nos dados com mais de 18 mil personagens vivendo suas aventuras em quase 2 mil campanhas no Old Dragon Online. Estes números não são apenas estatísticas: são histórias de heroísmo, tragédia, amizade e superação que revelam como a comunidade brasileira de RPG constrói suas narrativas épicas.
Este é o primeiro de uma série de quatro artigos para compartilhar achados, escolhas e dinâmicas sociais que moldam o Old Dragon. Prepare-se para uma jornada através de dados que contam histórias.
Toda aventura começa com uma escolha fundamental: quem você será neste mundo de fantasia? Com milhares de personagens criados, o OD Online nos oferece uma janela única para entender a psicologia do jogador brasileiro de RPG. O que nos atrai em certas raças? Por que algumas classes dominam enquanto outras definham? E o que nossas combinações favoritas revelam sobre como imaginamos o heroísmo?
Raças: O domínio humano
Domínio esmagador dos Humanos: mais de um em cada três personagens. É a porta de entrada mais natural para o mundo da fantasia. Humanos não carregam estereótipos pesados, permitem ao jogador projetar sua própria personalidade sem o filtro de uma cultura fantástica alienígena.
O segundo lugar dos Elfos conta outra história. Elfos representam o outro idealizado: longevos, graciosos, toques de mágica. São a fantasia em sua forma mais pura, o escape completo da humanidade mundana.
Os Anões em terceiro apelam para um arquétipo completamente diferente: a força através da adversidade, a resistência teimosa, o humor rude. Escolher um Anão é abraçar a ideia de que a verdadeira força vem da determinação, não da graça natural.
Em última posição absoluta temos Halfling Robusto: apenas duas fichas foram ativamente jogadas com esta opção do Kit do Jogador. Tão raro que nem sequer aparece no gráfico acima.
Classes: O triunfo do aço sobre a magia
O Guerreiro reina supremo, e isso diz muito sobre como abordamos o RPG. Em um mundo onde podemos ser qualquer coisa — magos dobrando a realidade, clérigos canalizando poder divino — escolhemos ser o cara com a espada. Por quê? A resposta, quem sabe, está na agência imediata. O Guerreiro age, não prepara. Enquanto o Mago precisa gerenciar recursos limitados e o Clérigo equilibra cura com combate, o Guerreiro tem uma solução simples para cada problema: aplicar aço até o problema desaparecer. Essa simplicidade pode não ser preguiça, mas libertação. Permite ao jogador focar na narrativa, nas decisões táticas momento a momento, sem a paralisia da análise de qual magia usar.
O segundo lugar do Mago representa o polo oposto: jogadores que abraçam a complexidade como forma de expressão. Cada Mago é único em seu grimório, suas escolhas de magia contam uma história sobre que tipo de poder eles valorizam. É a classe dos estrategistas, dos que encontram satisfação em ter a ferramenta perfeita para cada situação.
E em terceiro lugar, o Ladrão. Talvez a classe mais honesta sobre o que fazemos no RPG: improvisamos soluções para problemas inesperados. Ladrão é o curinga do baralho, a válvula de escape quando a força bruta falha e a magia se esgota. É a classe que sussurra “e se você pudesse simplesmente contornar o problema?”
Combinações Raça e Classe: Arquétipos que amamos
Este gráfico demonstra as 6 raças mais populares contra as 20 classes mais escolhidas, coincidindo com as presentes nos livros básicos.Cabe notar que campos em branco representam números inferiores a 0,1%, ou seja, não necessariamente zero fichas, mas pouquíssimas. E em alguns casos, inexistentes: como o Anão, Elfo e Halfling Aventureiro, limitados às raças de mesmo nome.
Com o domínio Humano e a popularidade de Guerreiros, não é de se espantar que a combinação mais popular seja Humano Guerreiro. Afinal, é o “feijão com arroz” do RPG.
As cinco primeiras posições são todas dos Humanos: Humano Guerreiro, Mago, Bárbaro, Paladino e Clérigo. Só a partir da sexta posição que o Anão Aventureiro surpreende como opção popular, seguido do Elfo Mago, Halfling Ladrão e Anão Guerreiro. Humanos só retornam com o Humano Ladrão em décima posição.
A lanterna vai para Halfling Proscrito: menos de dez fichas nestes dois anos ousaram esta rara combinação. Quantos destas, será, outrora eram Clérigos que afrontaram suas divindades?
Alinhamento: A moralidade neutra
O alinhamento Neutro provavelmente domina porque é a escolha que não escolhe: permite ao jogador navegar situações morais caso a caso. Ordeiro e Caótico se equilibram, próximos a 19% cada.
No Old Dragon Online, o alinhamento neutro é a opção padrão, o que também pode enviezar este resultado para jogadores que simplesmente não queiram nem sequer fazer uma escolha de alinhamento. Verdadeiramente, neutros.
Métodos de criação: Como nascem os heróis
A liderança do método “Personalizado” pode refletir uma limitação técnica: é o modo que permite que jogadores manipulem os atributos como desejam e insiram no OD Online, como quando rolam dados em casa, em outro meio, ou o mestre define uma lista pré-definida.
Mas o método Aventureiro em segundo lugar ilustra que jogadores querem algum controle sobre seu destino sem abandonar completamente a aleatoriedade sagrada de Old Dragon e RPG.
Já o Clássico é nostalgia pura, o método purista para os que acreditam que personagem bom é personagem sofrido: 3d6 em ordem, sem choro nem vela.
E, quase empatado, temos Heroico em quarta posição. Similar ao aventureiro, mas com um “empurranzinho” na roda da fortuna para atributos mais altos.
Na semana que vêm, o próximo capítulo: a A Jornada dos Níveis, com uma análise das distribuições de níveis e análise de taxas de mortalidade de nossos heróis.